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A próxima Conferência das Partes sobre Clima da ONU, a COP28, nos Emirados Árabes Unidos, acontece em um momento crucial com discussões que podem moldar um futuro mais rigoroso em relação à redução e à eliminação do uso de combustíveis fósseis.
A Humanidade emite anualmente 12,5 gigatoneladas de dióxido de carbono equivalente provenientes de combustíveis fósseis, sendo essas emissões o principal impulsionador do aquecimento global. No entanto, mudar esse cenário é muito complexo.
O petróleo é uma fonte de energia barata devido à sua grande escala de produção e à dependência energética. Este é o maior desafio para a mudança necessária. Vamos a um exemplo simples: um litro de gasolina custa R$ 5, enquanto um litro de suco de laranja custa R$ 10. A complexidade e os custos envolvidos na prospecção, extração, refino e transporte do petróleo são notáveis, mas esses custos são diluídos devido ao enorme volume de produção. O mundo necessita de uma solução energética de custo eficiente e de baixo carbono para substituir, mesmo que em parte, o petróleo.
O setor de óleo e gás e os países produtores e dependentes do petróleo estão enfrentando pressões crescentes e começam a planejar uma transição. Como resultado, um grande número de empresas em todo o mundo está investindo na descarbonização. Essas ações reúnem quatro temas centrais: (i) combustíveis fósseis mais limpos; (ii) energia renovável (ex: biocombustíveis, eólica offshore, hidrogênio verde); (iii) captura e armazenagem de carbono (CCS); e (iv) avanço tecnológico.
Um exemplo notável é o Grupo Mubadala, um fundo soberano dos Emirados Árabes Unidos que administra US$ 20 bilhões e pretende investir em larga escala no Brasil em diesel renovável e querosene de aviação.
Em agosto, o presidente Joe Biden anunciou um investimento substancial de US$ 1,2 bilhão em projetos de captura direta e armazenamento de carbono (CCS) nos Estados Unidos, com foco direcionado para empresas de petróleo. No entanto, o CCS ainda é uma tecnologia cara e carece de escala global. Além disso, a infraestrutura necessária é um elemento crítico, especialmente em relação ao acesso e à conexão a locais adequados para o armazenamento de CO2. As dimensões políticas e geoespaciais de CO2 representam desafios significativos. Assim, a demonstração tecnológica e o desenvolvimento de acordos multilaterais desempenharão um papel fundamental para mitigar as emissões de carbono em escala global.
Apesar destas iniciativas, não podemos afirmar que o setor de óleo e gás, ou os países dependentes do petróleo, estão caminhando de maneira firme em direção ao net zero. Muitas dessas ações ainda permanecem no domínio do discurso. Existe um debate sobre o chamado tecno-otimismo, que acredita que os avanços e a adoção tecnológica resolverão os problemas ambientais do setor. É provável que tais ações de mitigação sejam acompanhadas de mudanças sociais e decisões políticas disruptivas.
Um exemplo direto de como decisões políticas podem acelerar o processo de descarbonização é o Projeto de Lei (PL) 412/2022, que regulamenta o mercado de carbono no Brasil. Provavelmente, essa lei será vista como um marco brasileiro na COP28. Por meio dela, as emissões passarão a ter um custo para as empresas, incentivando a redução.
Outro exemplo relevante é a discussão sobre a exploração de petróleo na foz do Rio Amazonas — projeto amplamente criticado devido ao impacto na biodiversidade local e à contradição de explorar combustíveis fósseis em um bioma fundamental para o equilíbrio climático.
Olhando para um país altamente dependente do petróleo, destaco um exemplo disruptivo na Arábia Saudita, onde está em construção a cidade futurista The Line, com investimentos de US$ 500 bilhões. Essa cidade linear de 200 metros de largura, 500 metros de altura e 170 quilômetros de comprimento será totalmente neutra em carbono.
Há uma antiga expressão que diz: “Não foi por falta de pedra que a Idade da Pedra acabou.” Da mesma forma, acredito que a transição energética não ocorrerá por falta de petróleo, mas por um planeta mais sustentável.