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O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) recebeu um alerta sobre o mercado de etanol dado pelo diretor global de relações internacionais da Raízen, Paulo Macedo. O executivo teria dito que o produto pode ser o próximo alvo de medidas comerciais adotadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Conforme reportagem da Folha de S. Paulo, a comunicação feita pelo diretor da gigante sucroenergética à embaixada do Brasil em Washington foi registrada pelo Itamaraty em um documento obtido pelo jornal.
Procurada, a Raízen disse à Folha que não comentaria o caso.
A queixa dos estadunidenses é de que o Brasil impõe barreiras para a entrada de etanol no país, enquanto o produto brasileiro ingressa sem tarifas nos EUA.
Conforme a reportagem da Folha, o imposto de 18% praticado pelo Brasil afeta principalmente produtores do Meio-Oeste dos Estados Unidos, politicamente próximos a Trump. Aliados do republicano consideram o caso um dos exemplos de práticas comerciais injustas das quais o presidente dos EUA frequentemente reclama publicamente.
Ainda conforme a apuração, membros do governo brasileiro rebatem o argumento e dizem que os casos dos dois países não são totalmente comparáveis. Eles citam, por exemplo, que os produtores nacionais são mais prejudicados por barreiras americanas ao açúcar. A abertura desse setor nos EUA é um pleito antigo do Brasil.
Outro argumento é que aumentar a exposição ao etanol americano representa uma ameaça aos produtores do Nordeste brasileiro, aumentando a sensibilidade política ao tema.
De acordo com integrantes do governo ouvidos pela Folha, ainda não há informação sobre qual pode ser a linha de ação da administração de Trump em relação ao etanol: se o governo aumentaria tarifas para a entrada de etanol brasileiro no país ou se usaria outras medidas para pressionar o Brasil.
A eventual imposição de tarifas afetaria o segundo principal mercado de exportação do etanol brasileiro. Os despachos do produto para o solo estadunidense somaram US$ 181,8 milhões (cerca de R$ 1 bilhão) em 2024, atrás apenas da Coreia do Sul.
Os norte-americanos, por sua vez, totalizaram cerca de US$ 50,5 milhões em exportações de etanol ao Brasil em 2024.
Em 2024, houve um aumento de 13,3% nas exportações brasileiras no setor sucroenergético conforme o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). A Folha destaca que o setor esteve entre os principais exportadores do agronegócio em termos de valor, com US$ 19,7 bilhões, respondendo por uma participação de 12% do total vendido ao exterior.
O etanol brasileiro é vendido majoritariamente para a Califórnia devido às regras de redução de emissões do estado.
A expectativa de que o biocombustível seja afetado por decisões do governo Trump aumentou depois da audiência de confirmação de Jamieson Greer, no Senado. Ele foi indicado por Trump como representante de Comércio dos Estados Unidos em 6 de fevereiro.
Na ocasião, Greer disse que o etanol era um caso claro de injustiça comercial e afirmou que, se necessário, empregaria “táticas como investigações comerciais para convencer o Brasil a se abrir para o etanol americano”.
“Você poderia certamente procurar os brasileiros e dizer: ‘Vocês precisam consertar isso’. Mas isso precisa vir acompanhado de um senão. Isso é um pouco duro, mas precisamos ter alavancagem. E, se for necessário ganhar alavancagem por meio de ações investigativas ou outras ações, faremos isso. Preferimos muito mais fazer isso com base em negociações, mas faremos o que for necessário para tentar resolver essa situação”, disse Greer.
Ainda conforme apuração da Folha, entre as falas de destaque citadas em um resumo da sabatina, um membro do governo ressalta que o representante de Comércio dos EUA deve colocar a questão do setor do etanol no topo de sua lista de prioridades.
Fonte: novacana




